Monday 18 April 2016

Caminhar na natureza ajuda a aliviar a fadiga mental

A capacidade da mente humana de manter-se tranquila e focada é limitada, e pode ser perturbada por ruídos constantes e pela agitação e tensão da vida nas grandes cidades, além de causar, às vezes, fadiga mental – os cientistas já sabem disso há algum tempo.


Uma pessoa com fadiga mental desconcentra-se facilmente, fica esquecida e distraída. Um estudo novo e inovador, realizado na Escócia, porém, sugere que é possível diminuir esses sintomas apenas caminhando num jardim com árvores cobertas de folhas.
A ideia de que ir a parques ou praças cheias de árvores diminui o stresse e melhora a concentração não é nova. Investigadores têm vindo a desenvolver teorias de que os espaços verdes tranquilizam e exigem menos atenção directa da mente que as ruas movimentadas das cidades há bastante tempo. Os ambientes naturais geram uma «fascinação subtil», ou contemplação silenciosa, durante a qual quase não é necessária atenção directa e o cérebro pode reaver os recursos utilizados em excesso.
Embora agradável, essa teoria tem sido difícil de comprovar. Estudos anteriores descobriram que os níveis de cortisol – a hormona do stresse – presentes na saliva são menores nas pessoas que moram em locais arborizados ou próximas de parques que nas que moram essencialmente numa grande urbe, e que as crianças com défice de atenção tendem a concentrar-se e a ter desempenhos melhores em avaliações cognitivas após caminhar em parques e jardins botânicos.
Mais precisamente, eléctrodos foram presos às cabeças dos participantes num laboratório. Os cientistas mostraram aos voluntários fotos de ambientes naturais e urbanos e descobriram, através da leitura das ondas cerebrais, que eles ficavam mais tranquilos e meditativos ao observar fotos de ambientes naturais.
Mas o estudo do cérebro de pessoas quando elas estão em áreas externas, a movimentarem-se pela cidade e nos parques, nunca foi possível. Pelo menos até à criação recente da versão leve e portátil do electroencefalograma (EEG), tecnologia que estuda os padrões de ondas cerebrais.
Para o novo estudo, publicado no The British Journal of Sports Medicine, cientistas da Universidade Herriot-Watt, em Edimburgo, e da Universidade de Edimburgo prenderam EEGs portáteis no couro cabeludo de 12 adultos jovens e saudáveis. Escondidos sob um gorro de tecido, os eléctrodos leram as ondas cerebrais dos participantes e enviaram-nas para laptops que eram carregados pelos voluntários dentro de mochilas.
Os pesquisadores haviam estudado o impacto das áreas verdes sobre a cognição por algum tempo e fizeram com que todos os participantes caminhassem aproximadamente 2,4 quilómetros por três zonas diferentes da cidade.
Nos 800 metros iniciais, os participantes tiveram que percorrer uma área de compras histórica repleta de pedestres, com prédios bonitos e antigos e tráfego leve de veículos. Nos 800 metros seguintes, eles foram para um local semelhante a um parque. E finalmente, passearam por um bairro comercial movimentado, com prédios e tráfego intenso.
Os cientistas pediram aos participantes que caminhassem ao seu próprio ritmo, sem correr ou vaguear. A maioria realizou o percurso em cerca de 25 minutos.
Enquanto isso, os EEGs portáteis enviavam informações sobre os cérebros dos participantes aos laptops que carregavam.
Mais tarde, os pesquisadores compararam as leituras, procurando padrões de onda que acreditavam que estivessem relacionados com frustrações, atenção directa (que eles chamaram de envolvimento), excitação mental e contemplação ou tranquilidade.
As descobertas confirmaram a ideia de que as áreas verdes diminuem a fadiga cerebral.
Quando os voluntários passaram por áreas urbanizadas e movimentadas – nesse caso, o bairro de tráfego pesado do final do estudo – os padrões de ondas cerebrais mostraram com regularidade excitação e frustração maiores que as experimentadas quando eles caminharam no parque, local em que se tornaram mais meditativos.
A mente dos participantes ficou mais tranquila quando eles caminharam no parque.
Isso não significa que eles não estivessem a prestar atenção, afirmou Jenny Roe, professora da Escola Herriot-Watt do Ambiente Construído, que liderou o estudo. «Os ambientes naturais continuam a envolver» a mente, afirma, mas essa atenção não exige «esforço». Psicologicamente, isso chama-se atenção involuntária. Essa paisagem prende a nossa atenção e ao mesmo tempo permite a reflexão e fornece um paliativo para a atenção ininterrupta que as ruas das cidades geralmente exigem.

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